O professor ficou penalizado com a situação da menina:
- Como é que uma menina tão bonita pode vir para a escola tão mal arrumada?
Separou algum dinheiro de seu salário e, embora com dificuldade, resolveu-lhe comprar um vestido novo. Ela ficou linda no vestido azul.
Quando a mãe viu a filha naquele vestido azul, sentiu que era lamentável que sua filha, vestindo aquele traje novo, fosse tão suja para a escola. Por isso, passou a lhe dar banho todos os dias, pentear seus cabelos, cortar suas unhas...
Quando acabou a semana o pai falou:
- Mulher, você não acha uma vergonha que nossa filha, sendo tão bonita e bem arrumada, more em um lugar como este, caindo aos pedaços? Que tal você ajeitar a casa? Nas horas vagas eu vou dar uma pintura nas paredes, consertar a cerca e plantar um jardim.
Logo mais, a casa se destacava na pequena vila pela beleza das flores que enchiam o jardim e pelo cuidado em todos os detalhes. Os vizinhos ficaram envergonhados por morar em barracos feios e resolveram também arrumar suas casas, plantar flores, mudar a pintura e usar a criatividade.
Em pouco tempo o bairro todo estava transformado. Um homem que acompanhava os esforços e as lutas daquela gente, pensou que eles mereciam um auxílio das autoridades. Foi ao prefeito expor suas idéias e saiu de lá com autorização para formar uma comissão e estudar os melhoramentos que seriam necessários ao bairro.
A rua de barro e a lama foram substituída por asfalto e calçada de pedra. Os esgotos a céu aberto foram canalizados e o bairro ganhou ares de cidadania.
E tudo começou com um vestido azul...
Não era intenção daquele professor consertar toda a rua, nem criar um organismo que socorresse o bairro. Ele fez o que podia, deu a sua parte. Fez o primeiro movimento, que acabou fazendo com que outras pessoas se motivassem a lutar por melhorias.
Será que cada um de nós está fazendo a sua parte no lugar em que vive?
Por acaso somos aqueles que somente apontamos os buracos da rua, as crianças sem escola?
Lembremos que é difícil mudar o estado total das coisas, que é difícil limpar toda a rua, mas é fácil varrer a nossa calçada.
É difícil reconstruir o planeta, mas é possível dar um vestido azul... "
ROBERTO OTERO
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